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Brasil Colônia – Período Pré Colonial
O período colonial brasileiro é o mais extenso , são 322 anos. desde o desembarque de Pedro Alvares Cabral em 22 de abril de 1.500. Naquele pedaço ao sul da costa da futura cidade de Porto Seguro,
( fundada em 1534), até o " Independência ou morte" de D.Pedro I as " Margens Plácidas do Ipiranga" em São Paulo, em 7 de setembro de 1822.
O desembarque de Cabral, óleo de Oscar Pereira da Silva
A chegada dos portugueses ao continente americano e o início da
colonização algumas décadas depois foram responsáveis por iniciar o
período da história brasileira também conhecido como
Brasil Colônia.
A constituição de uma civilização pelos portugueses nos trópicos daria
as principais características para o desenvolvimento da sociedade nos
períodos históricos posteriores.
Invasões da Colônia
Como ainda não tinham muito interesse sobre as terras, os portugueses
não povoaram o local logo no início. Vinham algumas embarcações,
retiravam a madeira do pau-brasil e voltavam para Portugal.
Em virtude da não povoação lusitana na colônia, a costa brasileira
foi diversas vezes invadidas por franceses, holandeses e ingleses, que
apesar de não constarem no Tratado de Tordesilhas, continuavam a
exploração do Atlântico, pois acreditavam que a terra deveria pertencer a
quem a povoasse.
Motivado por essas invasões, em 1530 D. João III enviou à colônia a
primeira expedição com os objetivos de povoar o território colonial,
expulsar os invasores e iniciar o cultivo da cana-de-açúcar. A primeira
expedição colonizadora, chefiada por Martin Afonso de Souza, partiu de
Portugal em dezembro de 1500 e chegou ao Brasil no começo de 1531. Com
cerca de 400 homens, a expedição tinha como objetivo principal dar
início a colonização do Brasil. Martin Afonso de Souza distribuiu lotes
de terras (sesmarias) e deu início ao plantio da cana-de-açúcar ao criar
o primeiro engenho.
Assim se encerrou o Período Pré-Colonial, dando início ao Ciclo do Ouro de Cana-de-açúcar.
No aspecto produtivo, o país conheceu no
período dois grandes ciclos econômicos, o ciclo do açúcar e o ciclo da
mineração, sendo que cada um deles iria moldar de certa forma o processo
de ocupação das regiões do país. O caso do açúcar foi responsável pela
ocupação da região Nordeste, e o caso dos metais preciosos, pela
ocupação das regiões do Sudeste brasileiro e demais localidades no
interior do país.
No período foi marcante também a relação
dos portugueses com os indígenas, resultando em assimilação, dispersão e
genocídio. Situação parecida sofreram os africanos escravizados que
vieram para o país para trabalharem nas lavouras e minas da colônia.
Inúmeras guerras também foram travadas
nesse período, seja internamente, com tribos indígenas ou revoltas
populares, ou mesmo com outras nações que tentaram ocupar partes dos
territórios portugueses, como os franceses e os holandeses.
A distinta origem dos grupos étnicos que
deram origem à população brasileira resultou também em uma rica
expressão cultural, como pode ser visto na música e nas danças. A Igreja
Católica também teve contribuição sobre esse aspecto cultural, em
virtude, sobretudo, do controle que tinha sobre a educação e os
comportamentos sociais.
A Exploração do Pau-Brasil
Índios trocam toras de pau-brasil por bugigangas trazidas pelos franceses
Influência da cultura indígena
O tráfico dessa madeira, como conta Jean-Marc, deu
origem a imensas fortunas na Normandia. Até aquela época, a cor vermelha
era privilégio dos reis franceses. Os pigmentos que permitiam tingir de
vermelho os tecidos eram caríssimos, inacessíveis à população. Com a
chegada do pau-brasil tudo mudou. Qualquer dona-de-casa podia produzir
em seu fogão doméstico as tintas para tingir seus tecidos com infinitas
graduações de cores rubras. O pau-brasil permitiu que alguns armadores
normandos, como foi o caso de Jean Ango, por exemplo, acumulassem poder e
fortuna superiores às do próprio rei.
Ao mesmo tempo - e nisso está a originalidade do trabalho de
Jean-Marc Montaigne -, o contato com as culturas indígenas produziu
insuspeitadas e fortes influências na mentalidade francesa e depois na
da Europa como um todo. Influências não apenas restritas à moda, como
foi o caso do uso de penas e plumas nos chapéus - obviamente inspirado
pelos cocares e adornos indígenas -, que se tornou moda avassaladora
tanto para as mulheres quanto para os homens.
Capítulo 'O índio ganha relevo', de Jean-Marc Montaigne, no livro 'Pau-Brasil'
Essas influências tiveram reflexos importantes na própria mentalidade e
maneira de ser dos europeus. Jean-Marc observa que, naqueles tempos, o
único modelo de organização social e de poder conhecido era o regime
absolutista. O rei tinha direito quase de vida e morte sobre seus
súditos, e pouquíssimos eram os que ousavam sequer imaginar uma situação
diferente. Pois bem: muitos milhares de franceses vieram ao Brasil por
causa do tráfico, marinheiros, oficiais, militares, comerciantes, gente
da nobreza. No contato com nossos índios, eles se deparavam com uma
organização social e com uma postura de vida completamente diferente,
infinitamente mais livre e feliz. Os índios andavam nus, o governo não
era exercido de forma absolutista por um único indivíduo, mas sim
repartido entre o cacique, o pajé e um conselho de velhos sábios da
tribo; e a relação entre homens e mulheres era muito mais igualitária do
que na Europa. Ao voltar para casa, nas ruas e praças, nas tavernas,
nas casernas, na própria corte, eles contavam o que tinham visto. Para
resumir: segundo Jean-Marc, tudo isso exerceu enorme influência,
inclusive na formação dos vários movimentos humanistas que começaram a
pipocar na Europa desde então.
O painel 'L'Ile du Brésil' foi esculpido no século 16 em madeira de
pau-brasil e mostra a derrubada das
árvores. Está no Museu de Rouen,
França
Reflexos materiais dessas influências podem ser vistos até hoje em
vários monumentos arquitetônicos normandos, casas, palácios, igrejas,
decorados com relevos em pedra ou madeira onde podem ser vistos,
esculpidos, índios brasileiros nas mais diversas situações. Fotos
tiradas nas cidades de Rouen, Honfleur, Saint Valery e Dieppe, entre
outras, são reproduzidas no livro Pau-Brasil e dão uma idéia da dimensão
que o contato entre normandos e índios brasileiros assumiu naquela
época. Várias famílias indígenas foram inclusive levadas nos navios para
a Normandia. A maioria nunca mais voltou. Alguns índios e índias
acabaram se casando com brancos normandos, produzindo descendentes que
até hoje moram lá. Em Rouen e Dieppe, no verão, costumava-se organizar
festas "brasileiras", uma espécie de carnaval alegre em que boa parte da
população se vestia de "índio" e saía pelas ruas a dançar. O pau-brasil
foi motor de tudo isso.
Com nome científico de Caesalpinia echinata, o Pau-Brasil foi
declarado árvore símbolo da nação brasileira, e tem seu dia oficial
comemorado no dia 3 de maio. Árvore belíssima, nobre e
preciosa, ela é a melhor metáfora da história do nosso país: também ele
imenso, rico, generoso... e desde sempre espoliado até à beira da
extinção.
No centro da foto, um belo exemplar de pau-brasil. Jardim Botânico de São Paulo
Flores de pau-brasil
Pintura do século 16, mostra tintureiros franceses tingindo tecidos com pigmento extraído do pau-brasil
Inicialmente, a extração do pau-brasil era feita pelos próprios
portugueses, mas como a árvore não ficava concentrada em um território,
era distribuída por uma longa faixa, logo passaram a utilizar a mão de
obra indígena. É importante entender que os índios não eram
escravizados, mas pagos através do escambo (troca) de objetos simples,
tais como espelhos, chocalhos, apitos, etc, até então desconhecido dos
nativos.
Durante o período Pré Colonial, a única exploração por parte dos
portugueses foi de pau-brasil. Ainda não se tinha ideia das riquezas
minerais do país, nem de quão boa era a terra para o cultivo da
cana-de-açúcar. Este tipo de exploração veio bem depois.
Em 1500, no entanto, quando os europeus aqui chegaram, o pau-brasil era
uma das árvores mais abundantes da Mata Atlântica. Seu número podia ser
contado em dezenas de milhões. Mas ele logo começou a diminuir: uma
derrubada predatória teve início, e nunca mais parou até o século 20
avançado, quando a extrema escassez desse vegetal inviabilizou sua
exploração econômica.
Infográfico 'A exploração ao longo dos séculos', arquivo do jornal 'O Estado de São Paulo'
Várias tonalidades de vermelho obtidas com pigmentos do pau-brasil
A espanhola Ana Roquero, especialista em tinturaria e moda dos séculos
16 e 17, nos convida em seu capítulo “Moda e tecnologia” a embarcar numa
viagem realmente colorida. Trata-se, na verdade, de uma jornada em
direção ao poder e ao significado da cor vermelha. O trajeto se inicia
na mística púrpura dos fenícios e passa pelo "brasil asiático" de Marco
Polo, antes de podermos vislumbrar o papel desempenhado pelo pau-brasil
no mundo da moda, das finanças e da indústria têxtil européias. Suas
explicações permitem entender por que o pau-de-tinta moveu tantas
fortunas e tantos interesses.
Os melhores arcos para instrumentos de corda são feitos de pau-brasil
Escrito por oito autores nacionais e estrangeiros - Ana Roquero,
Fernando Lourenço Fernandes, Gwilym P. Lewis, Haroldo Cavalcante de
Lima, Jean-Marc Montaige, Max Justo Guedes, Nivaldo Manzano, além de
Eduardo Bueno, “Pau-Brasil” apresenta rica iconografia, obtida na famosa
biblioteca de José Mindlin.
Detalhe do mapa 'Terra Brasilis' (Atlas Miller, 1519), já mostra o
corte da madeira pau-brasil. Atualmente na Biblioteca Nacional da França
Magnífico exemplar de pau-brasil no interior da Mata Atlântica (Bahia)
Indicação de livro
Capa do livro 'Pau-Brasil', vários autores, com organização de Eduardo Bueno, Axis Mundi Editora
Escrito por oito autores nacionais e estrangeiros - Ana Roquero,
Fernando Lourenço Fernandes, Gwilym P. Lewis, Haroldo Cavalcante de
Lima, Jean-Marc Montaige, Max Justo Guedes, Nivaldo Manzano, além de
Eduardo Bueno, “Pau-Brasil” apresenta rica iconografia, obtida na famosa
biblioteca de José Mindlin.
O livro definitivo
O livro “Pau-Brasil”, da Axis Mundi Editora relata a epopeia
histórica, econômica e cultural desse primeiro ciclo da economia
brasileira. Seus autores, capitaneados pelo jornalista-historiador
Eduardo Bueno, apresentam a árvore que deu nome ao país como uma
metáfora da nossa difícil realidade passada e presente, bem como das
incertezas do nosso futuro.
Começam por explicar que o nome Brasil não deriva da palavra
portuguesa "brasa" ou "braseiro", como outrora os professores ensinavam
às crianças. Sua verdadeira origem é o termo celta brésil, que
significa "vermelho". Os franceses da Normandia - que logo após o
Descobrimento se tornaram os primeiros traficantes de pau-brasil para a
Europa - batizaram com esse nome a preciosa madeira rubra que aqui
vinham buscar. A palavra brésil difundiu-se a tal ponto que, segundo o
historiador João Ribeiro (1860-1944), "Brasil" na verdade é um
galicismo: o primeiro galicismo da língua ‘brasileira".
Num livro sobre o pau-brasil não poderia faltar a participação de um
francês. Além do mais, de um francês da Normandia, de todas as regiões
francesas a que mais teve trato com o Brasil e com o tráfico de
pau-brasil no primeiro século após a descoberta. Esse francês é
Jean-Marc Montaigne, talvez o mais atilado e dedicado pesquisador das
relações entre o Brasil e a Normandia naqueles tempos. As descobertas
que ele fez e as conclusões a que chegou são surpreendentes e certamente
darão origem a muita reflexão. No capítulo que assina, “O índio ganha
relevo”, Jean-Marc confirma aquilo que os historiadores brasileiros já
sabiam: as relações que os franceses estabeleceram com as civilizações
indígenas do litoral brasileiro foram, em geral, bastante cordiais e
amistosas. Ao contrário dos portugueses, que vinham para conquistar
terras e nelas se estabelecer, os franceses da Normandia queriam apenas
fazer bom comércio. Davam aos índios produtos como facas, anzóis, roupas
- e principalmente contas de vidro e bonés enfeitados com penas de galo
- e recebiam deles toneladas de pau-brasil com as quais enchiam os
porões de seus navios e as levavam para a Europa. O trato era tão
cordial que foram produzidos inclusive "dicionários"
normando-tupi-guaranis, contendo principalmente fórmulas de cortesia.
Jean-Marc descobriu vários originais desses glossários, algumas páginas
dos quais são reproduzidas no livro Pau-Brasil.
No capítulo “Pau-Brasil: uma biografia”, os botânicos Haroldo Cavalcante
de Lima, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, e Gwilym P. Lewis, do
Royal Botanic Gardens, de Londres, escrevem uma espécie de
"árvore-genealógica" do pau-brasil. Ela nos remete às origens do
processo que recobriu de florestas um planeta antes desnudo. Traçam, a
seguir, uma história da floresta brasileira, onde explicam que o
pau-brasil praticamente não tem parentes: trata-se de uma "espécie
relictual", ou seja, uma espécie "deixada para trás".
O capítulo “A madeira e as moedas”, do jornalista Nivaldo Manzano,
aborda sobretudo as questões econômicas relativas ao ciclo do
pau-brasil. Sua análise demonstra que temas como monopólio,
privatização, tributação excessiva, contrabando, pirataria, espionagem
industrial, globalização, ineficiência, corrupção, reserva de mercado,
concorrência desleal e dívida externa - tão presentes na realidade de
hoje de nossa nação - têm sua origem num passado muito mais remoto.
Surgiram e se desenvolveram a partir da própria descoberta do Brasil e
da primeira espoliação nele cometida - a do pau-brasil.
Uma espécie sequestrada
No epílogo de Pau-Brasil, no capítulo intitulado
“Raízes do futuro”, Eduardo Bueno e Haroldo Cavalcante Lima desenvolvem
de modo ainda mais brilhante o significado do pau-brasil como metáfora
de nossa nação. Não apenas uma metáfora econômica, mas também como um
símbolo da própria identidade política, cultural e social do Brasil.
"Praticamente em nenhum instante da história do país (colônia,
império e república) os brasileiros puderam ter acesso ao pau-brasil
para uso prático, estudos botânicos ou desfrute estético. Trata-se de
uma espécie que, de certo modo, foi 'sequestrada' do convívio com o
povo. Ela é a imagem de uma riqueza que sempre foi nossa e nunca pôde
ser nossa", comentam os autores. Eles concluem: "Eis aqui a atualidade
da metáfora: já quase desde o primeiro dia da aventura colonial até a
derrubada do último pé 'protegido' pelo monopólio, foi-nos negada a
experiência cultural do pau-brasil. Negada como espécie botânica
incorporada ao nosso mobiliário e às nossas construções; como tintura
ligada às nossas cores, às nossas roupas e à nossa indústria têxtil;
como espécie relacionada à agronomia, à silvicultura ou à própria
paisagem. O pau-brasil é, assim, a metáfora mais bem acabada, mais
perfeita e mais pertinente dos recursos naturais do Brasil: o símbolo
botânico da usurpação da nossa cidadania e da nossa própria omissão ao
longo do processo. O pau-brasil é a metáfora vegetal do Brasil que
poderia ter sido, que deveria ter sido, e que ainda não é. Até quando
não o será?"
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