quarta-feira, 24 de maio de 2017


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Brasil Colônia – Período Pré Colonial

O período colonial brasileiro é o mais extenso , são 322 anos. desde o desembarque de Pedro Alvares Cabral em 22 de abril de 1.500. Naquele pedaço ao sul da costa da futura cidade de Porto Seguro,
( fundada em 1534), até o " Independência ou morte" de D.Pedro I as " Margens Plácidas do Ipiranga" em São Paulo, em 7 de setembro de 1822.

O desembarque de Cabral, óleo de Oscar Pereira da Silva

A chegada dos portugueses ao continente americano e o início da colonização algumas décadas depois foram responsáveis por iniciar o período da história brasileira também conhecido como Brasil Colônia. A constituição de uma civilização pelos portugueses nos trópicos daria as principais características para o desenvolvimento da sociedade nos períodos históricos posteriores.

Invasões da Colônia

Como ainda não tinham muito interesse sobre as terras, os portugueses não povoaram o local logo no início. Vinham algumas embarcações, retiravam a madeira do pau-brasil e voltavam para Portugal.
Em virtude da não povoação lusitana na colônia, a costa brasileira foi diversas vezes invadidas por franceses, holandeses e ingleses, que apesar de não constarem no Tratado de Tordesilhas, continuavam a exploração do Atlântico, pois acreditavam que a terra deveria pertencer a quem a povoasse.
Motivado por essas invasões, em 1530 D. João III enviou à colônia a primeira expedição com os objetivos de povoar o território colonial, expulsar os invasores e iniciar o cultivo da cana-de-açúcar. A primeira expedição colonizadora, chefiada por Martin Afonso de Souza, partiu de Portugal em dezembro de 1500 e chegou ao Brasil no começo de 1531. Com cerca de 400 homens, a expedição tinha como objetivo principal dar início a colonização do Brasil. Martin Afonso de Souza distribuiu lotes de terras (sesmarias) e deu início ao plantio da cana-de-açúcar ao criar o primeiro engenho.
Assim se encerrou o Período Pré-Colonial, dando início ao Ciclo do Ouro de Cana-de-açúcar.

No aspecto produtivo, o país conheceu no período dois grandes ciclos econômicos, o ciclo do açúcar e o ciclo da mineração, sendo que cada um deles iria moldar de certa forma o processo de ocupação das regiões do país. O caso do açúcar foi responsável pela ocupação da região Nordeste, e o caso dos metais preciosos, pela ocupação das regiões do Sudeste brasileiro e demais localidades no interior do país.
No período foi marcante também a relação dos portugueses com os indígenas, resultando em assimilação, dispersão e genocídio. Situação parecida sofreram os africanos escravizados que vieram para o país para trabalharem nas lavouras e minas da colônia.
Inúmeras guerras também foram travadas nesse período, seja internamente, com tribos indígenas ou revoltas populares, ou mesmo com outras nações que tentaram ocupar partes dos territórios portugueses, como os franceses e os holandeses.
A distinta origem dos grupos étnicos que deram origem à população brasileira resultou também em uma rica expressão cultural, como pode ser visto na música e nas danças. A Igreja Católica também teve contribuição sobre esse aspecto cultural, em virtude, sobretudo, do controle que tinha sobre a educação e os comportamentos sociais.


A Exploração do Pau-Brasil

Índios trocam toras de pau-brasil por bugigangas trazidas pelos franceses

Influência da cultura indígena

O tráfico dessa madeira, como conta Jean-Marc, deu origem a imensas fortunas na Normandia. Até aquela época, a cor vermelha era privilégio dos reis franceses. Os pigmentos que permitiam tingir de vermelho os tecidos eram caríssimos, inacessíveis à população. Com a chegada do pau-brasil tudo mudou. Qualquer dona-de-casa podia produzir em seu fogão doméstico as tintas para tingir seus tecidos com infinitas graduações de cores rubras. O pau-brasil permitiu que alguns armadores normandos, como foi o caso de Jean Ango, por exemplo, acumulassem poder e fortuna superiores às do próprio rei.
Ao mesmo tempo - e nisso está a originalidade do trabalho de Jean-Marc Montaigne -, o contato com as culturas indígenas produziu insuspeitadas e fortes influências na mentalidade francesa e depois na da Europa como um todo. Influências não apenas restritas à moda, como foi o caso do uso de penas e plumas nos chapéus - obviamente inspirado pelos cocares e adornos indígenas -, que se tornou moda avassaladora tanto para as mulheres quanto para os homens.


 Capítulo 'O índio ganha relevo', de Jean-Marc Montaigne, no livro 'Pau-Brasil'

Essas influências tiveram reflexos importantes na própria mentalidade e maneira de ser dos europeus. Jean-Marc observa que, naqueles tempos, o único modelo de organização social e de poder conhecido era o regime absolutista. O rei tinha direito quase de vida e morte sobre seus súditos, e pouquíssimos eram os que ousavam sequer imaginar uma situação diferente. Pois bem: muitos milhares de franceses vieram ao Brasil por causa do tráfico, marinheiros, oficiais, militares, comerciantes, gente da nobreza. No contato com nossos índios, eles se deparavam com uma organização social e com uma postura de vida completamente diferente, infinitamente mais livre e feliz. Os índios andavam nus, o governo não era exercido de forma absolutista por um único indivíduo, mas sim repartido entre o cacique, o pajé e um conselho de velhos sábios da tribo; e a relação entre homens e mulheres era muito mais igualitária do que na Europa. Ao voltar para casa, nas ruas e praças, nas tavernas, nas casernas, na própria corte, eles contavam o que tinham visto. Para resumir: segundo Jean-Marc, tudo isso exerceu enorme influência, inclusive na formação dos vários movimentos humanistas que começaram a pipocar na Europa desde então.

O painel 'L'Ile du Brésil' foi esculpido no século 16 em madeira de pau-brasil e mostra a derrubada das
árvores. Está no Museu de Rouen, França

Reflexos materiais dessas influências podem ser vistos até hoje em vários monumentos arquitetônicos normandos, casas, palácios, igrejas, decorados com relevos em pedra ou madeira onde podem ser vistos, esculpidos, índios brasileiros nas mais diversas situações. Fotos tiradas nas cidades de Rouen, Honfleur, Saint Valery e Dieppe, entre outras, são reproduzidas no livro Pau-Brasil e dão uma idéia da dimensão que o contato entre normandos e índios brasileiros assumiu naquela época. Várias famílias indígenas foram inclusive levadas nos navios para a Normandia. A maioria nunca mais voltou. Alguns índios e índias acabaram se casando com brancos normandos, produzindo descendentes que até hoje moram lá. Em Rouen e Dieppe, no verão, costumava-se organizar festas "brasileiras", uma espécie de carnaval alegre em que boa parte da população se vestia de "índio" e saía pelas ruas a dançar. O pau-brasil foi motor de tudo isso.




Com nome científico de Caesalpinia echinata, o Pau-Brasil foi declarado árvore símbolo da nação brasileira, e tem seu dia oficial comemorado no dia 3 de maio. Árvore belíssima, nobre e preciosa, ela é a melhor metáfora da história do nosso país: também ele imenso, rico, generoso... e desde sempre espoliado até à beira da extinção.

 No centro da foto, um belo exemplar de pau-brasil. Jardim Botânico de São Paulo

Flores de pau-brasil


Pintura do século 16, mostra tintureiros franceses tingindo tecidos com pigmento extraído do pau-brasil

Inicialmente, a extração do pau-brasil era feita pelos próprios portugueses, mas como a árvore não ficava concentrada em um território, era distribuída por uma longa faixa, logo passaram a utilizar a mão de obra indígena. É importante entender que os índios não eram escravizados, mas pagos através do escambo (troca) de objetos simples, tais como espelhos, chocalhos, apitos, etc,  até então desconhecido dos nativos.
Durante o período Pré Colonial, a única exploração por parte dos portugueses foi de pau-brasil. Ainda não se tinha ideia das riquezas minerais do país, nem de quão boa era a terra para o cultivo da cana-de-açúcar. Este tipo de exploração veio bem depois.
 Em 1500, no entanto, quando os europeus aqui chegaram, o pau-brasil era uma das árvores mais abundantes da Mata Atlântica. Seu número podia ser contado em dezenas de milhões. Mas ele logo começou a diminuir: uma derrubada predatória teve início, e nunca mais parou até o século 20 avançado, quando a extrema escassez desse vegetal inviabilizou sua exploração econômica.
 Infográfico 'A exploração ao longo dos séculos', arquivo do jornal 'O Estado de São Paulo'


Várias tonalidades de vermelho obtidas com pigmentos do pau-brasil

 A espanhola Ana Roquero, especialista em tinturaria e moda dos séculos 16 e 17, nos convida em seu capítulo “Moda e tecnologia” a embarcar numa viagem realmente colorida. Trata-se, na verdade, de uma jornada em direção ao poder e ao significado da cor vermelha. O trajeto se inicia na mística púrpura dos fenícios e passa pelo "brasil asiático" de Marco Polo, antes de podermos vislumbrar o papel desempenhado pelo pau-brasil no mundo da moda, das finanças e da indústria têxtil européias. Suas explicações permitem entender por que o pau-de-tinta moveu tantas fortunas e tantos interesses.

Os melhores arcos para instrumentos de corda são feitos de pau-brasil



Escrito por oito autores nacionais e estrangeiros - Ana Roquero, Fernando Lourenço Fernandes, Gwilym P. Lewis, Haroldo Cavalcante de Lima, Jean-Marc Montaige, Max Justo Guedes, Nivaldo Manzano, além de Eduardo Bueno, “Pau-Brasil” apresenta rica iconografia, obtida na famosa biblioteca de José Mindlin.
 Detalhe do mapa 'Terra Brasilis' (Atlas Miller, 1519), já mostra o corte da madeira pau-brasil. Atualmente na Biblioteca Nacional da França


Magnífico exemplar de pau-brasil no interior da Mata Atlântica (Bahia)

Indicação de livro 


 Capa do livro 'Pau-Brasil', vários autores, com organização de Eduardo Bueno, Axis Mundi Editora

 Escrito por oito autores nacionais e estrangeiros - Ana Roquero, Fernando Lourenço Fernandes, Gwilym P. Lewis, Haroldo Cavalcante de Lima, Jean-Marc Montaige, Max Justo Guedes, Nivaldo Manzano, além de Eduardo Bueno, “Pau-Brasil” apresenta rica iconografia, obtida na famosa biblioteca de José Mindlin.

O livro definitivo

O livro “Pau-Brasil”, da Axis Mundi Editora relata a epopeia histórica, econômica e cultural desse primeiro ciclo da economia brasileira. Seus autores, capitaneados pelo jornalista-historiador Eduardo Bueno, apresentam a árvore que deu nome ao país como uma metáfora da nossa difícil realidade passada e presente, bem como das incertezas do nosso futuro.
Começam por explicar que o nome Brasil não deriva da palavra portuguesa "brasa" ou "braseiro", como outrora os professores ensinavam às crianças. Sua verdadeira origem é o termo celta brésil, que significa "vermelho". Os franceses da Normandia - que logo após o Descobrimento se tornaram os primeiros traficantes de pau-brasil para a Europa - batizaram com esse nome a preciosa madeira rubra que aqui vinham buscar. A palavra brésil difundiu-se a tal ponto que, segundo o historiador João Ribeiro (1860-1944), "Brasil" na verdade é um galicismo: o primeiro galicismo da língua ‘brasileira".


Num livro sobre o pau-brasil não poderia faltar a participação de um francês. Além do mais, de um francês da Normandia, de todas as regiões francesas a que mais teve trato com o Brasil e com o tráfico de pau-brasil no primeiro século após a descoberta. Esse francês é Jean-Marc Montaigne, talvez o mais atilado e dedicado pesquisador das relações entre o Brasil e a Normandia naqueles tempos. As descobertas que ele fez e as conclusões a que chegou são surpreendentes e certamente darão origem a muita reflexão. No capítulo que assina, “O índio ganha relevo”, Jean-Marc confirma aquilo que os historiadores brasileiros já sabiam: as relações que os franceses estabeleceram com as civilizações indígenas do litoral brasileiro foram, em geral, bastante cordiais e amistosas. Ao contrário dos portugueses, que vinham para conquistar terras e nelas se estabelecer, os franceses da Normandia queriam apenas fazer bom comércio. Davam aos índios produtos como facas, anzóis, roupas - e principalmente contas de vidro e bonés enfeitados com penas de galo - e recebiam deles toneladas de pau-brasil com as quais enchiam os porões de seus navios e as levavam para a Europa. O trato era tão cordial que foram produzidos inclusive "dicionários" normando-tupi-guaranis, contendo principalmente fórmulas de cortesia. Jean-Marc descobriu vários originais desses glossários, algumas páginas dos quais são reproduzidas no livro Pau-Brasil.
 
No capítulo “Pau-Brasil: uma biografia”, os botânicos Haroldo Cavalcante de Lima, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, e Gwilym P. Lewis, do Royal Botanic Gardens, de Londres, escrevem uma espécie de "árvore-genealógica" do pau-brasil. Ela nos remete às origens do processo que recobriu de florestas um planeta antes desnudo. Traçam, a seguir, uma história da floresta brasileira, onde explicam que o pau-brasil praticamente não tem parentes: trata-se de uma "espécie relictual", ou seja, uma espécie "deixada para trás".

O capítulo “A madeira e as moedas”, do jornalista Nivaldo Manzano, aborda sobretudo as questões econômicas relativas ao ciclo do pau-brasil. Sua análise demonstra que temas como monopólio, privatização, tributação excessiva, contrabando, pirataria, espionagem industrial, globalização, ineficiência, corrupção, reserva de mercado, concorrência desleal e dívida externa - tão presentes na realidade de hoje de nossa nação - têm sua origem num passado muito mais remoto. Surgiram e se desenvolveram a partir da própria descoberta do Brasil e da primeira espoliação nele cometida - a do pau-brasil.

Uma espécie sequestrada

No epílogo de Pau-Brasil, no capítulo intitulado “Raízes do futuro”, Eduardo Bueno e Haroldo Cavalcante Lima desenvolvem de modo ainda mais brilhante o significado do pau-brasil como metáfora de nossa nação. Não apenas uma metáfora econômica, mas também como um símbolo da própria identidade política, cultural e social do Brasil.
"Praticamente em nenhum instante da história do país (colônia, império e república) os brasileiros puderam ter acesso ao pau-brasil para uso prático, estudos botânicos ou desfrute estético. Trata-se de uma espécie que, de certo modo, foi 'sequestrada' do convívio com o povo. Ela é a imagem de uma riqueza que sempre foi nossa e nunca pôde ser nossa", comentam os autores. Eles concluem: "Eis aqui a atualidade da metáfora: já quase desde o primeiro dia da aventura colonial até a derrubada do último pé 'protegido' pelo monopólio, foi-nos negada a experiência cultural do pau-brasil. Negada como espécie botânica incorporada ao nosso mobiliário e às nossas construções; como tintura ligada às nossas cores, às nossas roupas e à nossa indústria têxtil; como espécie relacionada à agronomia, à silvicultura ou à própria paisagem. O pau-brasil é, assim, a metáfora mais bem acabada, mais perfeita e mais pertinente dos recursos naturais do Brasil: o símbolo botânico da usurpação da nossa cidadania e da nossa própria omissão ao longo do processo. O pau-brasil é a metáfora vegetal do Brasil que poderia ter sido, que deveria ter sido, e que ainda não é. Até quando não o será?"




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